Acupuntura - A esperança que vem das agulhas

Acupuntura - A esperança que vem das agulhas

Indicada para o alívio de dores agudas e paralisias, essa prática milenar está ganhando espaço entre a clientela animal
No Brasil, a acupuntura em animais de estimação ainda engatinha. Apesar de essa ciência secular ter sido utilizada há muito tempo no tratamento de animais de carga, em cães e gatos a prática de cura por agulhas é mais recente, desde os anos 50. Uma das pioneiras em acupuntura veterinária é a clínica do dr. Roberto Moreira, que funciona há 41 anos, em São Paulo.
Essa demora se deve à escassez de cursos de especialização para os médicos veterinários. Um pouco mais de 1% dos médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo optou por essa prática, se dispondo a fazer cursos no exterior. Entre eles, está o dr. Nelson Eiti Kimura, que há dez anos atende seus pets no Estado de São Paulo.
Dentro das estatísticas, tanto em humanos como em animais, 15% dos casos atendidos respondem muito bem ao tratamento. E relatos positivos não faltam na trajetória profissional do médico. O da cocker Tábata é um exemplo. "Ela chegou até mim com uma séria lesão na coluna, que a impedia de andar. Já tinha sido desenganada por outros três colegas. O tratamento foi longo, mas depois de três meses Tábata já estava andando novamente. O curioso é que, quando ela sentia que as dores recomeçavam, corria para a poltrona onde as sessões de acupuntura eram feitas e ficava olhando para o dono, como se pedisse para me chamar", relata o médico.
Embora a acupuntura venha conseguindo seus melhores resultados no alívio de dores, também pode ser usada no tratamento de todas as doenças, isoladamente ou associada a medicamentos alopáticos ou homeopáticos.
O atendimento do animal é quase sempre em situação de emergência, como cavalos com traumatismo ou manqueira, cães com problemas agudos de coluna e articulação, como artrose, bico-de-papagaio, hérnia de disco. Mas problemas de infecção, cólicas intestinais, alterações como alergias respiratórias ou de pele, e até gripes, igualmente podem ser tratados. No caso de gripe, a acupuntura permite uma modulação do organismo para que ele consiga produzir anticorpos com maior eficácia e velocidade, harmonizando as energias e melhorando o estado geral do animal.
Outro caso que o dr. Kimura cita é de Blester, um rottweiler que teve paralisia aguda dos membros posteriores. Foi medicado numa clínica, mas não demonstrava nenhum sinal de recuperação. "Comecei o tratamento no quarto dia em que ele apresentou o problema e um dia depois ele já esboçou uma reação de movimento. No terceiro dia estava em pé, andando, e aos poucos voltou à atividade normal."
O resultado do tratamento, segundo o dr. Kimura, depende também da reação dos animais. E isso só pode ser verificado quando da inserção das agulhas no corpo do animal. Geralmente os médicos e acupunturistas usam de dez a vinte agulhas, que podem ser nacionais ou importadas, descartáveis ou não.
E é justamente essa capacidade de resposta do paciente que vai determinar o número de sessões necessárias. As sessões, de modo geral, acontecem em dias alternados e podem ser nos consultórios ou na casa onde vivem os animais. O efeito é conseguido de 12 a 48 horas após a primeira sessão.
Relaxamento do corpo facilita a aplicação
Se existe dúvida quanto à reação do animal na hora que recebe as espetadas das agulhas, a veterinária Jasmine Severo, de Florianópolis (SC), que há seis anos adotou essa linha de tratamento, esclarece: "O bicho dorme ou fica meio sonado, pois se sente bem. Por isso nunca precisei amordaçar nem prender nenhum de meus pacientes", confirma a médica.
O dr. Kimura, no entanto, rebate essa tranqüilidade. "Têm casos em que o animal é estressado e não consegue relaxar. Às vezes é preciso usar focinheira, mas ele pode andar, se mexer, que as agulhas não caem se estiverem bem colocadas. É só o profissional ter um bom conhecimento do mapa dos meridianos e de anatomia e fazer a aplicação. Colocar agulha não é a mesma coisa que aplicar uma injeção, onde a área extensa do corpo é maior. São diversos pontos, em lugares certos."
Já em casos de cólicas ou problemas de coluna, "é comum o profissional aumentar a produção de substâncias antiinflamatórias e analgésicas no corpo, que são as endorfinas, fazendo uma analgesia (retirada da dor) do local e desinflamando", complementa o dr. Nelson.
A dra. Jasmine Severo diz que resolveu seguir o caminho da acupuntura porque nunca quis praticar a eutanásia. "Queria salvar os animais, mesmo quando não houvesse esperança de cura", confirma.
Ela tem tratado também casos de animais com seqüelas de cinomose, doença que provoca problemas de pele, distúrbios neurológicos, dificuldades de locomoção (o cachorro pode ficar paraplégico ou tetraplégico), problemas mastigatórios (ele não consegue engolir a comida nem tomar água, porque sua língua não faz a concha, e isso pode induzir uma desidratação).
"Quando um animal contrai a doença, aparecem vários problemas ao mesmo tempo por causa da debilidade do organismo causada pelo vírus. Podem surgir complicações no sistema pulmonar e o animal ter uma pneumonia, em seguida diarréia e vômito, que o debilita ainda mais, queda de pêlo, infecções, até invadir o organismo todo e culminar com o sistema nervoso central. Se o cachorro já é adulto, a acupuntura dá 100% de resultado, garante a médica catarinense.
Garantia de muitos ovos
A técnica secular de tratar doenças com agulhas pode ser utilizada em aves, principalmente em galinhas. Nesse caso, é indicada quando se constata queda de rendimento na produção de ovos ou perda de peso. Em aves muito pequenas, como canários, é complicado porque o manuseio pode causar um estresse muito grande no pássaro e ele acabar morrendo. Mas aves de maior porte - papagaios, patos, gansos - podem ser tratadas. Teoricamente, a acupuntura pode ser usada em qualquer tipo de animal, mas não se tem notícias, nem dos Estados Unidos, do tratamento em animais exóticos, como cobras e largartos.
Alívio aos esportistas
Cavalos e vacas, porcos e cabras já eram tratados com acupuntura muito antes dos animais de estimação, tanto no exterior como no Brasil. E até hoje eles recebem as agulhas para melhorar a dor. Os problemas que mais atingem esses animais são os de locomoção e as dores relacionadas à cólica intestinal, com mais propensão para as vacas. Essa ciência oriental tenta melhorar o desempenho na produção de leite, ajudar nas inflamações de úbere e infecções de vias respiratórias, mais comuns em vacas. Para os cavalos de corrida e animais destinados a competições, contribui bastante no abrandamento das dores musculares e traumatismos.
Auxílio na hora do xixi
A acupuntura pode ajudar no tratamento da síndrome urológica felina, doença comum em gatos, que antigamente tinha causa relacionada à composição de rações. Hoje, sabe-se que diversos agentes atacam o sistema urológico do animal, causando cálculos renais, retenção da urina, dor no ato de urinar, inflamação e infecção do sistema reto-urinário. A pressão das agulhas auxilia no relaxamento do esfíncter, das vias urinárias, no combate à dor e à desinflamação do local.
Origens orientais
A acupuntura começou a ser praticada na China há 6 mil anos, como uma tentativa de buscar o equilíbrio da energia do corpo humano, por meio da ativação de pontos ou meridianos (que são canais por onde passa a energia).

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